Uma história de amor



Uma história de amor



Contou-me um homem muito estranho de turbante na cabeça e vestindo uma túnica, que quem olhasse para o sol do meio dia em ponto, reviveria a passagem de um forasteiro apaixonado que perdeu sua vida pelas areias escaldantes do deserto à procura de uma escrava foragida que se perdera ao tentar atravessá-lo à procura de liberdade...




Então, ao meio dia atentei-me para o céu azul. O sol brilhava forte, e sob o calor escaldante eu o vi caminhando descalço na areia branca. O peito de fora e a calça dobrada até os joelhos, denunciavam o calor insuportável. O andar lento e desigual denunciava o cansaço eminente.

A sede era evidente, em seus lábios, as marcas de ressecamento deram lugar à pequenas fendas que sangravam.
Sob as noites estreladas, onde nada se via, apenas ouvia-se daqueles lábios, os gritos desesperados chamando-a, ecoando entre a imensidão do vazio da solidão.
Sob a luz do dia, o seu olhar perdia-se no horizonte, as pupilas delatadas denunciavam a fraqueza. Mas, ele não desistia, fome já não mais sentia. Apenas caminhava, caminhava, mesmo não vendo nada à sua frente a não ser, areia sobre areia. Ele caminhava incansavelmente, e a sede que sentia era de encontrá-la. Subia e descia por montanhas de areias fofas, que hora estavam aqui, hora ali, formando montanhas que iam para onde o vento as ordenavam desmarcando o caminho que antes ele havia marcado.
Até que em estado febril, o delírio passou a dominar-lhe os sentidos e os pensamentos.

Ao longe, ele avistou um lago, e nele, ela banhava-se nua, refrescava-se nas águas cristalinas de uma cachoeira que despencava em abundancia. Uma mulher de pele branca, de curvas perfeitas. Os olhos verdes como esmeraldas igualavam-se ao verde das folhagens ao seu redor. Nos lábios dela, um sorriso encantador convidava-o a banhar-se também.

- Um anjo sem nome! murmurou ele exausto.
- O meu anjo!
- Finalmente nos encontramos, meu amor! continuou ele estendendo-lhe os braços.

Ao lado de sua amada, um cavalo branco de asas saboreava daquela deliciosa e fresca água enquanto olhava-o com sarcasmo, e vez ou outra, relinchava provocando-o.
O desespero dominou-o ao vê-la montá-lo, e nua, sair a galope deixando-o para trás.
Os cabelos negros e compridos ao vento acenaram-lhe um último adeus.
No ímpeto do desespero, ele corre em sua direção...O solo escaldante treme!
A imagem desaparece...

- Ela se foi! grita ele, reunindo suas últimas forças...

Exaurido, ele ajoelha-se na areia quente e desiludido, chora!
Decepcionado com o seu fracasso, ele rende-se e deita-se, desfalecendo.
Algum tempo depois, o homem de turbante encontra-o.
Mas, é tarde de mais, daqueles mórbidos lábios, apenas algumas palavras foram ouvidas:

- Oh Deus, o lago secou, e não saciei a minha sede!
- O cavalo se foi, e eu não pude me despedir do meu amor!
- A busca chegou ao fim, o meu sonho acabou!



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