Silêncio


Nas noites em que as estrelas descansam, eu me canso revirando na cama que de nada reclama, que me tolera sobre si e enxuga minhas lágrimas enquanto ouve em silêncio as minhas silenciosas lamentações.

São tantos os segredos não revelados, que carrego no corpo o peso do enorme fardo.

Pesa-me ainda a vida dolorosa e nada impiedosa dos tempos de infância. Pesa-me o silêncio que só a mim cabe.

O que trago no peito não é mágoa. Não é ódio. É desilusão, é repudio.

O silêncio daqueles que de mim nada sabem, incomoda-me quando passo por eles e fito-os nos olhos enquanto esboço um sorriso tímido, porém, amigável.

São tantas as dores lá fora amontoadas que de longe as capto no uivo do vento que em minha janela bate. Capto-as nos murmúrios das folhas da árvore em frente a minha casa. Sinto que do meu atormento elas tudo sabem, mas, também não falam. É como se a indiferença estivesse em todos os lugares. Em todas as horas, em todas as pessoas e coisas.

Desde pequena ouço falarem sobre amor, solidariedade e irmandade.
Mas, não é o que eu vejo nas grandes cidades. Principalmente na minha que é tão grande e acolhedora de todos os povos.

É vergonhoso o que eu vejo sob os viadutos, becos e sobre as calçadas.

São pessoas que para muitos, sequer têm identidades. São pessoas que para afogarem suas dores e suas fomes, fazem da água ardente a sua fonte de ilusão, a sua fonte de sorrisos. De muitos, os filhos foram tomados e levados para outros abrigos. É mais fácil separar pais e filhos do que acolhê-los de forma digna.
A acolhida da cidade não fora para eles, uma acolhida de verdade.

Marta Rodriguez
Imagem: Internet.

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